terça-feira, 11 de setembro de 2012

Uso de animais no ensino e pesquisa científica


A favor
Mozart Artmann
Graças ao uso de animais em pesquisas, a ciência garantiu alguns de seus importantes avanços, principalmente para a área da saúde. Alguns analgésicos, anestésicos cirúrgicos e todos os antibióticos precisaram ser testados previamente em bichos. Até o transplante de órgãos só se tornou possível a partir dessas pesquisas.
Em 2008 foi criada a Lei Arouca (Lei Nacional n° 11.794/08), que regulamenta o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). O conselho determina que cada instituição que realize qualquer tipo de experiências com bichos precisa criar uma comissão fiscalizadora. Na UEPG existe a Comissão de Etica no Uso de Animais (CEUA). Caso a CEUA denuncie alguma experimentação que não segue as normas, a universidade é multada e pode perder o direito de usar animais em pesquisas.
As exigências são conhecidas como os três erres: 1- Replacement (substituição): é obrigatório substituir os animais por métodos alternativos de pesquisa sempre que for possível; 2- Reduction (redução): utilizar apenas o número de animais necessários para a pesquisa, procurando reduzi-los sempre que houver possibilidade e não altere os resultados; 3- Refinement (requinte): minimizar a dor, estresse e sofrimento dos bichos durante os procedimentos.
Evitar a dor ou estresse durante as pesquisas não é uma preocupação apenas dos grupos ambientalistas, mas também dos cientistas, pois caso um animal sofra durante um procedimento, os resultados não são tão fiéis à realidade.
O curso de Medicina da UEPG utiliza suínos na disciplina de técnicas operatórias, para que os estudantes adquiram habilidades como cirurgiões e anestesistas. De acordo com Gilberto Ortolan, professor responsável por essas aulas, não existem métodos alternativos para a realização dos procedimentos. Em alguns casos é possível usar um simulador primeiro, mas os futuros cirurgiões realmente precisam operar os animais em algum momento.
Os suínos recebem, em primeiro lugar, uma medicação pré anestésica. Depois são submetidos à anestesia para que não sintam dor durante as aulas. E, para evitar que sofram, são sacrificados com métodos nacionais de eutanásia. No caso dos porcos, ou se induz uma parada cardíaca ou se aprofunda a anestesia até a morte.

Contra
Jessica Bahls
O uso de animais em práticas científicas e em salas de aula vem sendo questionado pela comunidade defensora dos animais e sociedade. Em Ponta Grossa, o grupo Abolicionistas Veganos (AVEG) fez várias manifestações para alertar e conscientizar a sociedade sobre essa prática. Com uma posição contrária à experimentação animal, o grupo acredita que as leis que instauram “comissões de ética” — lei federal N° 11.794, de 8/10/2008 e lei estadual N°14037 de 20/03/2003 - não são suficientes para proteger e fiscalizar as experimentações. “Não existe nenhum artigo que diga que a comissão deva fazer uma análise ética dos processos de pesquisa que chegam”, diz o AVEG em resposta às questões apresentadas pela Nuntiare Ciência.
Em Ponta Grossa, o curso de Psicologia da Faculdade Sant’Ana aboliu o uso de animais, eram cerca de 30 ratos sacrificados por ano. Atualmente o curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) utiliza 10 porcos por semana na prática de vivissecção — ato de dissecar o animal vivo para realização de estudos. Segundo o AVEG, na hora da criação de leis os interesses dos pesquisadores são levados em conta e não o dos animais, “como se fôssemos fazer uma legislação para a prática da pedofihia baseados nos interesses dos pedófilos”, completam.
Atualmente existem protótipos sintéticos utilizados em algumas práticas, e alguns modelos computadorizados já podem ser usados para evitar a vivissecção. O AVEG defende que o uso de protótipos não compromete a formação do profissional da saúde, pelo contrário, colabora com a formação ética deste mesmo profissional. “Ética, empatia, cuidado e respeito são muito mais difíceis de ensinar do que qualquer intervenção física”, afirmam. Outro ponto é a ineficácia de alguns testes, que em animais foram um sucesso e nos humanos não, como o caso do Talidomida, um medicamento usado contra insônia e ansiedade que causa má formação fetal e perda de sensibilidade nas mãos e nos pés.
A comunidade científica não apoia a causa, e quem apoia acaba ficando numa situação de neutralidade. Isso dificulta a criação de uma legislação eficiente ou mesmo a abolição da prática. Os estudantes que possuem posição contrária ao uso de animais podem se recusar a realizar tais procedimentos dentro de sala de aula.

Fonte: Nuntiare Ciência 01/2012 (p.31-32)
Revista-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, Paraná.




Um comentário:

  1. - equívoco 1: o uso incorreto do termo eutanásia: a matança de seres saudáveis não pode ser considerada “eutanásia”. Quem é da medicina deveria saber disso melhor que qualquer outra pessoa.
    - equívoco 2: “não existem substitutivos”.O proprio livro citado abaixo traz alguns, onde encontrá-los e depoimentos de profissionais que utilizam com frequencia.
    As entrevistas abaixo foram concedidas a Thales Trez, pesquisador e antivivisseccionista. São recortes, mas os argumentos completos e contextualizados podem ser encontrados em seu livro A verdadeira face da experimentação animal.

    1. Dr. Stefano Cagno – Itália
    Laureado em Medicina e Cirurgia – docente da Universitá Statale di Milano
    “o fato de os animais oferecerem aos jovens estudantes ou cirurgiões a possibilidade de exercitar-se em tecidos vivos, não quer dizer que isso seja realmente útil. A pressão que um cirurgião deve fazer para abrir o abdômen de um suíno não é a mesma que deve ser feita no homem”
    “a Medicina e as disciplinas biológico/científicas progredirão com mais velocidade quando definitivamente for abolido o uso de animais. A vivissecção é um método que deferia ofender a inteligência dos que amam a ciência e as matérias científicas. Considero a vivissecção no mesmo nível que a bruxaria”.


    2.Professor Salvatore Rocca Rossetti
    Nefrologista e Urologista, docente da Universidade de Torino
    “vi cirurgiões experimentarem alguns órgãos de cão pensando que fossem idênticos àqueles do homem. Nenhum cirurgião se tornou tal porque aprendeu a operar num animal. Pelo contrário, no animal ele desaprendeu. Eu fiz dezenas de milhares de cirurgias no homem e não as havia feito primeiro em animais”


    3.Dr Jerry Vlasak
    Trauma Surgeon – docente da Loma Linda University Medical Center – EUA
    Founded and developed Central Surgical Group
    “os animais são usados ainda em pesquisa básica não porque sejam um bom meio para se aprender. Mas porque tal prática é imensamente estabelecida e há muito dinheiro sendo gerado pela indústria animal biomédica”


    4. Dr. Abel Desjardin
    Docente da France´s Ecole Normale Superieure e cirurgião chefe do Colégio de Cirurgia da Faculdade de Paris.
    “vamos examinar como alguém chega à operação cirúrgica: primeiro, você observa. Depois você auxilia um cirurgião. Isso por várias vezes. Depois que tiver compreendido os diversos estágios de uma operação, as dificuldades que podem surgir e a contornar essas dificuldades, somente então você pode começar a operar. Primeiro em casos simples, sob a supervisão de um cirurgião experiente...essa é a verdadeira escola de cirurgia e eu afirmo que não existe outra. Depois de explicar sobre a verdadeira escola de cirurgia fica fácil entender porque todos os cursos baseados em operações em animais têm levado a falhas miseráveis. O cirurgião que conhece sua arte não pode aprender nada destes cursos e os iniciantes não aprendem a verdadeira técnica cirúrgica e se tornam cirurgiões perigosos”

    5. Dr. Ivo Pitanguy
    Docente titular do curso de Pós Graduação de Cirurgia Plástica da PUC – RJ
    “com relação à experimentação animal, existem e existiram muitos abusos que não trouxeram e não trazem benefícios para nós. O ser humano não pode ter benefícios através do sofrimento de outras espécies”

    6. Dra. Adele Ribeiro
    Médica chefe (e assistente do Prof Ivo Pitangui) no Serviço de Queimados do Hospital Souza Aguiar
    “certa vez traduzi um trabalho em alemão de um grupo que mostrava que podia-se obter um número muito maior de anticorpos monoclonais in vitro do que provocando tumor maligno em ratos. Perguntei a uma bióloga que havia estudado na Alemanha e conhecia a experiência, qual método usava e ela disse: o rato. Perguntei por que ela não usava um método in vitro e ela falou: por hábito”.

    E na UEPG? Qual a fronteira entre “o hábito” e a necessidade nos procedimentos vivisseccionistas?
    Foi a partir de questionamento e informação que acadêmicos, professores e sociedade colocaram em cheque a supremacia científica das universidades que, devido à mobilização, hoje aboliram totalmente o uso de animais.

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